A expedição Darwin200, um projeto global com a finalidade de refazer os principais pontos da viagem pelo mundo do naturalista inglês Charles Darwin, já iniciou seu roteiro pela costa brasileira com um itinerário que prevê o desembarque no Rio de Janeiro (RJ) em 4 de novembro. No Rio, o Projeto Ilhas do Rio será o anfitrião da expedição Darwin200, que está a bordo do grande veleiro Oosterschelde. Em 1º de outubro, o navio atracou em Fernando de Noronha, sua primeira parada no Brasil, tendo permanecido no arquipélago até o último dia 7.
O segundo desembarque no Brasil do veleiro Oosterchelde será em Salvador, com previsão de chegada em 17 de outubro, e a terceira parada será no Rio de Janeiro. Com este roteiro, a expedição tem o objetivo de percorrer três pontos em solo nacional em que Darwin esteve com a expedição do veleiro HSM Beagle, no século XIX. Na viagem pelo mundo que teve duração de cinco anos (1831 a 1836), o naturalista realizou as pesquisas que produziram subsídios para a teoria da evolução das espécies por seleção natural e que é o tema do livro de sua autoria A Origem das Espécies.
Darwin200: treinar jovens conservacionistas
Com duração de dois anos (2023 a 2025), a expedição Darwin200 é um projeto que se baseia no legado de Charles Darwin para contribuir com pesquisas científicas e com a conscientização sobre os riscos para a vida planetária em virtude da crise climática global. A expedição tem, entre seus principais objetivos, o treinamento dos 200 melhores jovens conservacionistas do planeta, conhecidos como líderes Darwin (Darwin Leaders), de modo a contribuir com a capacitação de tomadores de decisão na área ambiental para futuras e necessárias transformações ao redor do mundo.
O projeto também pretende inspirar o público global com a realização de atividades chamadas de “salas de aulas mais empolgantes do mundo” para a apreciação da natureza e a divulgação de esforços de conservação. Nos dois anos da expedição, as atividades serão estruturadas em “aulas” semanais gratuitas com a transmissão de diversos conteúdos, como experimentos interativos inspirados nas pesquisas e descobertas de Charles Darwin, palestras com conservacionistas e especialistas em vida selvagem, entrevistas com líderes Darwin e sobre pesquisas relacionadas à ciência cidadã.
Equipado com um laboratório de última geração, o veleiro fará paradas nos principais portos onde Darwin desembarcou, incluindo 50 estadias de uma semana voltadas à recepção dos grupos de líderes Darwin e apoio às pesquisas. O navio Oosterschelde começou sua expedição em 15 de agosto deste ano, em Plymouth, na Inglaterra, de onde partiu o jovem Darwin em dezembro de 1831 em uma viagem que resultou na teoria que é o esteio central da biologia. O veleiro Oosterschelde já esteve em Tenerife (Ilhas Canárias), Cabo Verde, Fernando de Noronha e seguiu para Salvador.
Na lista de patronas e apoiadoras do projeto Darwin200, estão a etnóloga Dra. Jane Goodall, fundadora do Instituto Jane Goodall e mensageira da paz da Organização das Nações Unidas (ONU), Dra. Sarah Darwin, tataraneta de Charles Darwin, e a bióloga marinha Dra. Sylvia Earle, fundadora da aliança internacional Mission Blue. Considerada a dama da conservação marinha, Sylvia Earle esteve em julho no Rio de Janeiro e mergulhou nas águas das Ilhas Cagarras e Águas do Entorno, que formam o 2º Ponto de Esperança (Hope Spot em inglês) no litoral do Brasil, um reconhecimento da Mission Blue.
Viagem de Darwin
Recém-formado em Cambridge, Darwin tinha 22 anos quando embarcou rumo ao Hemisfério Sul no navio HSM Beagle, que estava a serviço da marinha real britânica para cumprir, entre os principais objetivos, levantamentos de dados geográficos e hidrográficos da Terra do Fogo, um arquipélago localizado na extremidade sul da América do Sul, e da costa sul deste continente. No dia 27 de dezembro de 1831, o veleiro deixou a Inglaterra rumo ao seu destino, sendo que a sua primeira parada foi em Cabo Verde, em janeiro de 1832. Lá, o naturalista começou a coletar material da flora e fauna.
Em território brasileiro, Darwin esteve nos arquipélagos de São Pedro, de São Paulo e de Fernando de Noronha, viajando, em seguida, para Salvador, onde o veleiro HSM Beagle ancorou em fevereiro de 1832. O naturalista registrou em seu diário de bordo (cujo conteúdo consta do livro Diário do Beagle) o seu fascínio pela exuberância dos ecossistemas brasileiros. “ […] Tenho caminhado sozinho pela floresta brasileira; entre a multidão, é difícil de dizer que conjunto de objetos é mais impressionante: a exuberância geral da vegetação inclui a vitória, a elegância das gramíneas, a novidade das plantas parasitas, a beleza das flores […]”, escreveu o inglês.
Darwin prosseguiu em seu relato: “O barulho dos insetos é tão alto que à noite pode-se fazer ouvir mesmo em embarcação ancorada a centenas de jardas da praia. E, no entanto, dentro dos recessos da floresta, quando imersos nele, uma paz universal nos parece prevalente. Para uma pessoa com inclinação para a história natural, um dia como este traz um tipo de prazer mais agudo do que ela jamais poderá voltar a sentir. […] O cenário brasileiro não é mais nem menos que uma visão das Mil e uma Noites, com a vantagem da realidade”. Era a primeira vez que o naturalista adentrava em uma floresta tropical.
O naturalista no Rio de Janeiro
Após a temporada na Bahia, o navio rumou para o Rio de Janeiro, ancorando na cidade em abril de 1832. Darwin permaneceu aproximadamente três meses no Estado do Rio, período que incluiu uma hospedagem em uma quinta localizada na praia de Botafogo, na zona sul da capital, e em regiões do interior do Estado, dentre elas Niterói.
Em todas as suas paradas durante a expedição, o naturalista coletava animais, plantas e rochas. Nos portos onde o veleiro atracava, Darwin aproveitava para enviar suas amostras, que eram desidratadas ou conservadas em álcool, para a Inglaterra aos cuidados de John Stevens Henslow, que tinha sido seu professor de botânica no Christ’s College, em Cambridge. Os materiais eram distribuídos por Henslow a vários especialistas para análise. Quando o naturalista retornou à Inglaterra, em 1836, ele já era um cientista conhecido.
Praticamente toda a costa da América do Sul, da Bahia ao arquipélago de Galápagos, no Equador, com paradas no Uruguai, Argentina, Chile e Peru, foi explorada pela expedição. Mas não foi a bordo do veleiro que Darwin ficou a maior parte do tempo. Em cinco anos de expedição, ele permaneceu 18 meses no mar e um total de três anos e um mês em terra firme. O retorno do navio HSM Beagle à Inglaterra foi pela Austrália, seguindo pelo Oceano Índico e África do Sul.