Ilhas do Rio e Mission Blue anunciam ampliação do Hope Spot das Ilhas Cagarras e Águas do Entorno

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Região cresce de 17 mil hectares para 57 mil, abrangendo o MONA Cagarras, águas do entorno e a região das Ilhas Tijuca, Peças e Palmas.

No dia 16 de abril de 2021, o Monumento Natural das Ilhas Cagarras e as águas do entorno entraram para a seleta lista de “Hope Spots” da Aliança Internacional Mission Blue, liderada pela Dama da Conservação Dra. Sylvia Earle. Agora, mais uma vez com o auxílio do Projeto Ilhas do Rio, grande parte do litoral da Zona Oeste carioca, indo da Barra da Tijuca até a Barra de Guaratiba, também passa a fazer parte do Ponto de Esperança ao lado de aproximadamente 160 locais em todo o mundo. O anúncio oficial da expansão será feito no dia 16 em todas as mídias do Projeto Ilhas do Rio e da Mission Blue.

Até então, a área delimitada como Hope Spot ia desde a entrada da Baía de Guanabara (incluindo a Ilha de Cotunduba e a Praia Vermelha) até a praia do Leblon, passando por Copacabana e Ipanema. Com a expansão, a área cresce de 17 mil para 57 mil hectares, abrigando as Ilhas Tijucas (ainda não protegida pela legislação) e as ilhas de Peças e Palmas, localizadas dentro da zona de amortecimento dos Parques Naturais Municipais da Prainha e de Grumari. “A expansão do Hope Spot ajuda a chamar atenção da sociedade e do poder público local, tanto para a biodiversidade e beleza desses ecossistemas insulares, quanto para os perigos e impactos presentes nessas áreas. Somente com conhecimento e informação é possível proteger”, diz Aline Aguiar, coordenadora científica do Projeto Ilhas do Rio.

A estratégia faz parte dos relevantes trabalhos conjuntos do Projeto com o Núcleo de Vida Marinha, da Secretaria Municipal de Meio Ambiente do Rio de Janeiro, para o fortalecimento da proteção costeiro e marinha na cidade. Iniciada em 2021, junto com o reconhecimento do Hope Spot pela Mission Blue, a parceria teve como foco inicial a pesquisa, educação ambiental e comunicação sobre o MONA Cagarras e o Santuário Marinho Carioca. Em 2023, a atuação foi ampliada, visando o apoio e a conservação das Ilhas Tijucas e do PNM da Prainha e de Grumari.

“Ao promover iniciativas e parcerias como essa, o Núcleo de Vida Marinha eleva o grau da cidade na contribuição para a temática oceânica local e global, reconhecendo a importância das Organizações locais de alto valor, como o Projeto Ilhas do Rio, para o ambiente marinho-costeiro, para os cariocas e para a conservação marinha oceânica global”, diz Dra. Simone Pennafirme, que é responsável pelo Núcleo de Vida Marinha da Secretaria Municipal de Meio Ambiente da Cidade do Rio de Janeiro.

A história de atuação do Projeto Ilhas do Rio nas ilhas Tijucas começou ainda em 2013. Com base nas pesquisas, sabe-se que a área abriga espécies de importância comercial e ameaçadas de extinção. Em 2022, o inventário publicado pelos pesquisadores, com foco nos peixes do Arquipélago das Tijucas, cita um total de 115 espécies registradas, sendo 11 exclusivas das Tijucas, além de ênfase para espécies de raias e peixes ameaçados de extinção. Além disso, baleias e golfinhos também são avistados com frequência por lá, e resultados de estudos preliminares identificaram a ocorrência e residência de juvenis de tartarugas-verdes, o que demonstra a importância das Ilhas Tijucas para a espécie.

PESQUISA INÉDITA – Apesar de fazer parte de uma Unidade de Conservação, a região do PNM da Prainha e de Grumari ainda não possui estudos aprofundados sobre as espécies encontradas nos ambientes insulares. Foi pensando nisso, que em fevereiro de 2024, o Projeto Ilhas do Rio começou suas primeiras incursões nas ilhas de Peças e Palmas para pesquisar as espécies de bentos e peixes.

Segundo o Dr. Áthila Bertoncini, os primeiros mergulhos mostraram que a região é rica em espécies de valor comercial como garoupas, olhetes, robalos e badejos. Também foram avistadas muitas formações de filhotes, indicando que é uma área de berçário. Os pesquisadores também notaram uma quantidade abundante da espécie de peixes crípticos, como Maria-da-Toca, Labrisomus, em alguns casos, reproduzindo. “Esses primeiros mergulhos mostraram que a área é rica em espécies, especialmente algumas que não costumamos ver com tanta frequência no MONA Cagarras, como o robalo e a garoupa. São espécies de grande interesse para a pesca, tanto comercial quanto esportiva. Também registramos muitos filhotes e até cavalos marinhos, que são raros nas Ilhas Cagarras”, comemora. Tais achados reforçam a relevância do local para a biodiversidade marinha do Rio de Janeiro, e que é importante que a área tenha monitoramento e proteção continuada pelas agências governamentais locais.

Nos costões rochosos, os pesquisadores encontraram uma grande variedade de seres bentônicos. Nas partes mais rasas e iluminadas, é predominante a presença de macroalgas de pequeno porte ou incrustantes. Já nas regiões de sombra, nas partes inferiores dos matacões ou nas maiores profundidades, predominam invertebrados incrustantes com esponjas, briozoários, cnidários e hidrozoários. Já os equinodermas, em particular, ouriços e estrelas do mar, são abundantes em todas as profundidades, sem distinção em relação ao grau de iluminação. Polvos e lagostas estão entre os organismos também observados nos costões das ilhas.

Mesmo em locais de fácil acesso para pescadores e turistas, os costões se mostraram bem preservados, com uma rica variedade de espécies. “Foi uma grata surpresa deparar com um costão tão bonito e preservado em uma área que as pessoas têm acesso, podem descer, andar e, consequentemente, acabar danificando o bioma”, salienta Dr. Roberto Vilaça, responsável pela pesquisa dos bentos. O único fator agravante foi a presença de uma espécie invasora de coral, a Tubastraea. “Apesar de pequena, a colônia com cerca de 20 cm de diâmetro, já pode ser considerada como estabelecida pra região e há grandes possibilidades de se expandir caso esse estabelecimento simplesmente seja recente”, alerta. Alguns indivíduos de mexilhão-verde exótico também foram observados, demonstrando a importância dos trabalhos de levantamento da biodiversidade para prevenção e controle dessas espécies não-nativas.

Os pesquisadores também se depararam com um grupo de 21 golfinhos-fliper, entre eles dois filhotes, o que comprova a importância das águas cariocas como área de ocorrência dessas espécies, como já observado na região do MONA Cagarras. “Estamos muito entusiasmados com a oportunidade de ampliar os estudos para essa nova área. Por ser pouco acessada e conter diferentes ambientes, como piscinas de mares, costões rochosos, é uma região com muito potencial, que abriga diversas espécies importantes da fauna e flora marinha”, explica Dr. Áthila Bertoncini, responsável pelo levantamento de peixes.

IMPACTOS HUMANOS E DE POLUIÇÃO – se por um lado, o bom nível de conservação dos biomas marinhos foram uma grata surpresa em todas as ilhas, o mesmo não se pode dizer em relação ao lixo e os impactos causados pelos humanos. Nas Ilhas Tijucas, estudos associam a comunidade de peixes de costão rochoso a impactos da presença de lixo marinho e espécies exóticas nas ilhas do Rio. Destaque para os resultados na Ilha Pontuda, o segundo local com mais abundância de lixo plástico por 100m2, bem como alto grau de dominância de coral sol (Tubastraea spp.). Também foi flagrado registros de interação negativa de embarcações com os indivíduos de tartarugas marinhas, evidenciando a necessidade de um ordenamento local para a conservação desses animais.

Nas ilhas de Palmas e Peça, do PNM de Prainha e Grumari, chamou atenção a presença de restos de artes de pescas como redes, linhas de nylon e garatéias no fundo do mar. Em terra, a equipe do projeto realizou um mutirão de limpeza na ilha de Palmas de onde, em apenas duas horas, retiraram um total de 30,315 kg de lixo.  O plástico, como sempre, foi o mais encontrado, somando 10,795 kg. Em seguida vem o metal com 6,615 kg; e o vidro com 4,215 kg. Outros resíduos, não categorizados, somaram 7,15 kg.

Segundo a Dra. Noa Magalhães, responsável pela ação, foi retirado muito lixo de moitas e em áreas que servem de abrigo para os frequentadores, indicando que não se trata de um lixo de maré. “De acordo com os locais que o lixo foi encontrado, deu para perceber que não se trata de resíduos trazidos pelo mar, mas sim por quem frequenta. Isso comprova que é preciso haver um trabalho massivo e urgente de educação ambiental específico para a região. Deu tristeza ver aquele lugar lindo sendo destruído pela poluição humana”, conta.

A ação foi realizada em parceria com o Projeto de Educação Ambiental do Programa Bandeira Azul da Prainha, Route e as embarcações Imua e Guaratiba Experience. Após a coleta, os resíduos passaram por uma triagem, foram pesados e enviados para a central de coleta seletiva da Comlurb.

SOBRE OS HOPE SPOTS – Os “Pontos de Esperança” (como são chamados em português) são ambientes reconhecidos por sua diversidade, importância e, também, risco em que se encontram e que, por isso, merecem atenção do poder público e da sociedade para que se mantenham conservados. Em geral, são áreas que precisam de proteção, mas também podem ser áreas marinhas protegidas (AMPs) já existentes, onde mais ações sejam necessárias. Foi pensando nisso que a Dra. Aline Aguiar, bióloga marinha e responsável técnica do Projeto Ilhas do Rio/Instituto Mar Adentro, resolveu indicar o MONA Cagarras como um novo Ponto de Esperança no Brasil, onde, até então, apenas o Banco dos Abrolhos detinha esse reconhecimento em águas brasileiras.

Na candidatura do MONA Cagarras foram destacados pontos como: alta diversidade de espécies, incluindo ameaçadas, endêmicas e novas para ciência; um dos maiores ninhais de aves marinhas do Atlântico Sul; remanescentes da Mata Atlântica com características pristinas; espécies da megafauna carismática; fauna marinha de importância econômica para pesca; corredor migratório para baleias; presença de um sítio arqueológico; grande potencial para turismo sustentável. “Vale lembrar que o MONA Cagarras também se destaca por sua importância cultural. Além da presença de um sítio arqueológico Tupiguarani na Ilha Redonda, as ilhas são um cartão postal da cidade e movimentam a economia local através do turismo ecológico”, salienta Aline Aguiar.

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